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O trabalho doméstico (Movimento Feminino Popular, 2018)

Nota do blog: Publicamos quarta parte de documento do Movimento Feminino Popular, tratando aqui sobre o problema do trabalho doméstico invisível e sua transformação em trabalho visível quando convertido em trabalho industrial no socialismo. Importantíssimo documento para compreensão científica do problema feminino.


A função da família das classes oprimidas no capitalismo é cuidar, alimentar, educar, repor a força de trabalho dos operários, camponeses e trabalhadores em geral de maneira que eles atendam às condições da exploração capitalista e latifundiária. Garantir que a família trabalhadora se reproduza enquanto classe explorada física, intelectual, moral e politicamente.

O trabalho doméstico

A função da família das classes oprimidas no capitalismo é cuidar, alimentar, educar, repor a força de trabalho dos operários, camponeses e trabalhadores em geral de maneira que eles atendam às condições da exploração capitalista e latifundiária. Garantir que a família trabalhadora se reproduza enquanto classe explorada física, intelectual, moral e politicamente.

O trabalho doméstico é “invisível”

Essa batalha cotidiana imposta às mulheres é denominada por nós de “trabalho invisível”. A chamada “dona-de-casa”, é a primeira que levanta, prepara a comida de todos da casa e é a última que come. Limpa, lava na beira do tanque ou do rio, cuida dos filhos, enfrenta os cobradores na porta, socorre-se na vizinha porque as latas estão vazias, corre ao posto médico com o menino febril, ganhando em troca desta rotina as varizes e lombalgias. Quando ao final do dia, senta-se pela primeira vez, a maioria delas diante da televisão como fuga da imensidão de problemas, a casa já está toda desarrumada, os meninos já estão sujos, a pia já está cheia de louça, e ninguém verá o trabalho feito que recomeçará todos os dias. Quando se pergunta a uma mulher que não trabalha no mercado formal e se esfalfa no trabalho doméstico se ela trabalha, a resposta é NÃO. Ela própria não vê o trabalho que faz, ou não o reconhece como trabalho, levada que é a acreditar que essas tarefas seriam uma sina secular do sexo feminino.

Trabalho doméstico é trabalho não pago

Dessa forma, a exploração dos trabalhadores extrapola a fábrica invadindo seu lar. Para entender este problema é necessário compreender que o salário do operário não é mais que o necessário à sua sobrevivência e reprodução. Quando a mulher cozinha, lava, passa, cuida dos filhos e dos idosos da família, e executa uma infinidade de outras tarefas domésticas, garante a reprodução da força de trabalho para as classes exploradoras na forma de trabalho gratuito, não pago. Os salários podem ser mantidos em níveis baixíssimos, uma vez que o empregador não precisa desembolsar nem um tostão para garantir seu empregado alimentado e vestido no dia seguinte deixando seus filhos cuidados em casa. É assim que o capitalista explora o operário de duas formas: na fábrica, com pouca paga, e em sua casa, através da exploração do trabalho não pago da mulher.
As relações sociais e de produção no campo são ainda mais arcaicas e retrógradas. O assalariamento é totalmente precário e aparente, o que vigora são as formas semifeudais como as parcerias de “meia”, de “terça”, o pequeno arrendo, etc. A pequena exploração camponesa é inseparável da economia doméstica e da escravidão da mulher, que é responsável direta por grande parte da pequena produção, desde a lavoura ao cuidado dos animais, além de todas as tarefas do lar. Esta situação mantém a mulher camponesa mais subjugada que a operária, acorrentada pelas mais humilhantes condições, nas quais impera, pelos costumes seculares, sua inferioridade em relação ao homem, tendo de se submeter e se subordinar a ele por completo na vida familiar, favorecendo enormemente a exploração da classe camponesa pelo latifúndio.

O trabalho doméstico é dupla jornada

No caso da mulher trabalhadora da cidade e do campo, a exploração é dupla, pois o ingresso da maioria esmagadora das mulheres na produção não foi acompanhado de nenhum benefício que as alivie do trabalho doméstico. Além de executarem esse exaustivo e diário trabalho, cumprem jornadas de trabalho fora de casa, recebendo ainda salários inferiores aos homens pelo mesmo trabalho executado.  Ao contrário, as mulheres das classes dominantes exploram as mulheres das classes oprimidas como empregadas domésticas, diaristas, cuidadoras de crianças e idosos.

Transformação revolucionária do trabalho doméstico em indústria social

A experiência da República Popular da China

A experiência da construção socialista na Rússia (depois União Soviética), a partir de 1917 até 1956, é muito rica assim como na China socialista, de 1949 até 1976, onde assistimos pela primeira vez na história à transformação do trabalho doméstico em indústria social.
O desenvolvimento de uma indústria social que desmistifica o trabalho doméstico e o socializa foi uma das obras imensas da revolução chinesa desde seus primeiros momentos. O funcionamento das oficinas de serviços e outras atividades substituem e tornam coletivo o trabalho doméstico em toda sua amplitude: lavar, passar, arrumar casa, cozinhar, cuidar dos filhos, costurar, consertar roupas e toda uma infinidade de afazeres antes colocados exclusivamente sobre os ombros da mulher.

Equipes de limpeza das casas

As famílias saíam para o trabalho e uma equipe vinha até sua casa limpá-la.

Lavanderias coletivas

As roupas por lavar, passar ou consertar eram apanhadas em casa e levadas para as oficinas especializadas.

Restaurantes coletivos

As refeições eram feitas nas fábricas e escolas, ou nos restaurantes coletivos construídos dentro dos conjuntos habitacionais.

Creches

O cuidado com as crianças era fundamentalmente responsabilidade das creches (que funcionavam 365 dias no ano durante 24 horas) e escolas públicas, onde a educação socialista afiançava a formação de crianças saudáveis física e ideologicamente.
Este funcionamento das creches permitia aos pais, participar de atividades após seu horário de trabalho como estudo em geral, participação em congressos, palestras e debates e atividades culturais.

Participação dos idosos na construção da nova sociedade

Os idosos não mais representavam um peso para a sociedade e cumpriam tarefas em diversos locais, desde as oficinas de limpeza e conserto até o trabalho em horários variados em fábricas. Entretanto, muitos trabalhavam especialmente apoiando o processo de ensino das crianças e jovens, valorizados em sua larga experiência de vida, como testemunhas vivas da antiga sociedade, transmitindo sua experiência e crítica sobre ela e apoio à nova sociedade que se construía.

Indústria social do trabalho doméstico o torna um trabalho visível

Ao coletivizar o trabalho doméstico, este deixa de ser “invisível”, aparece claramente como uma produção como outra qualquer, demonstrando que esta carga sobre os ombros da mulher não é um destino assinalado pela “natureza feminina” e sim a forma de organização capitalista que o utilizava como método de exploração.
Ao ser assumido por homens e mulheres, na nova sociedade, passa a ser visto como trabalho e não “ocupação das mulheres” como na sociedade capitalista. A satisfação dos homens em participar voluntariamente dessas oficinas, tanto nos trabalhos como na construção de novos prédios para abrir novas oficinas, é um testemunho desse salto.
A coletivização socialista desse trabalho dá pela primeira vez a ele o caráter de trabalho útil e necessário a todos, conferindo-lhe o reconhecimento social. Acaso podemos pensar nesta forma de organização social dentro do capitalismo?

Participação na vida política do país

Homens, jovens e mulheres aprendem a reconhecer a importância deste trabalho e não mais são menosprezados por realizá-lo. As equipes de bairro responsáveis pelos diversos setores deste trabalho têm participação ativa e massiva na vida política, organizadas como qualquer outra unidade de produção. Participam de debates sobre a situação internacional, discutem posições do governo e as questões decisivas na construção do socialismo, o papel da mulher na revolução, etc. Da mesma forma, antigas “donas-de-casa”, mulheres de cinqüenta anos, tomam parte de grupos de estudo do marxismo-leninismo-pensamento Mao Tsetung, atividade que se converteu em movimento pujante na China.

Atividades culturais

A vida cultural dos bairros se baseia nestas equipes. Elas foram responsáveis pela criação de muitos grupos de artistas amadores no país. Organizam apresentação de espetáculos para os moradores dos bairros, vão até as fábricas e recebem ainda grupos de outras partes do país que vêm apresentar peças teatrais e números de acrobacia, uma das atividades culturais muito apreciadas pelos chineses.

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